O garotinho loiro de cabelos desgrenhados gostava defazer o caminho mais longo na volta da escola, só para poder ver... Ele em vez de vir pelo centro da pequena cidade interiorana, ele se dava o trabalho de contornar a cidade pelo lado norte, aonde podia passar algumas horas olhando e tentando entender. Os professores não explicavam, os pais muito menos. A explicação mais freqüente era que um dia não estava ali, havia apenas fazendas e gado, no outro havia aquele rebuliço, aquele tubo de vento e areia q tocava o solo e o céu, que relampeava dentro e fora, que fazia um barulho ensurdecedor, que fez por outra sugava objetos de um horizonte distante para seu interior.
Fazia quatro décadas que um enorme furação se formara naquela região arida. Se formara e naum se desvisera. E mais, se mantinha rodando ,em sua fúria devastadora, no mesmo eixo, sem se mover um centimento. Quadro décadas que esse mosntro vive.
Mas foi neste dia de sol impiedoso como o do deserto que o garoto, que tinha seus cabelos cor de ouro bagunçados pelo vento, viu uma figura diferente, mais, naquela imensa planície q vivia o monstro. Uma figura rasgava o chão árido em alta velocidade correndo em quatro patas em direção ao furação, corria como se corresse de algo q o mataria, corria com paixão. O garoto, intrigado, esfregou os olhos para perceber que não se tratava de um enorme lobo, ou mesmo um grande felino, mas sim de um homem.. Um homem correndo em quatro patas a uma velocidade absurda. A poeira saia de suas patas a uma altura de cinco metros.
A figura, com saltos ágeis, desviou de uma ou duas pedras e de um carro de passeio, que fora arremessado de dentro do gigante na direção do homem que corria. Este, como se fosse rotineiro o evento, saltou em direção ao carro ainda no ar, apoiando em suas patas traseiras em uma das portas do carro e em um novo impulso, saltou mais alto! O corpo ao ar, o carro ao chão formando uma expressiva cratera. A figura tocou o chão e voltou a correr. Ele corria para o Olho do Furacão.
O garoto sentado na pedra, apreensivo apertou o caderno contra as pernas, ao ver que aquele ser que corria não sobreviveria ao carro que fora arremessado contra ele. Mas o garoto relaxou ao ver a manobra e perceber que aquele ser não morreria ali. Não morreria!
Mais alguns metros em direção ao monstro, mais velocidade. Então um salto. Um salto gigantesco, um salto apaixonado, um salto de uma vida.
O garoto de longe viu o homem que corria sobre quatro patas sumir na confusão de ventos dilacerantes e de areia... Então ele esperou.
Com a destreza de um tigre o homem atravessou a parede densa do monstro, pousou no olho do furacão. Agachado, seus sentidos relaxaram, tinha uma certa paz ali, quase um silencio em comparação com o alvoroço do lado de fora. Levantou-se, farejou o ar e nada sentiu, bateu as mãos nas roupas para tirar o excesso de poeira e então esperou.
As paredes internas do monstro giravam incançavelmente, agressivamente belas, uma beleza mortal girava em torno do homem em roupas de couro. Seu instinto se aguçou mais uma vez e ele soube para onde olhar. Olhou na parede norte aonde lentamente foi se abrindo um buraco naquele imenso corpo de vento, pedras e areia. E uma forma feminina, envolta em véus azuis celestes levitava por dentre o buraco aberto, somente pela sua presença, e lentamente, olhos que beiravam o amarelo,cabelos encaracolados e rosto bem feito,contrastando com a velocidade infernal dos ventos que formavam a parede, pousou em frente ao homem.
O coração dele estava disparado, talvez o dela também, ele mal sentia as poderosas pernas,mas se atreveu a um sorriso. A mulher que usava véus azuis celestes e adornos em ouro retribuiu o sorriso. Eles relaxaram.
Então conversaram. Conversaram sobre muitas coisas, coisas que nem ao menos sabiam que podiam conversar, falaram coisas do céu e do inferno, coisas de vidas, coisas de almas, coisas magikas que o tempo não apagou.. e foi assim ele se sentiu. Mas ele demorou para perceber que não havia pronunciado uma unica palavra assim como ela não havia dito nada, somente se olhavam e entendiam as falas.. não eram corpos... eram mais que isso.
Foi então que o instinto felino dele saltou do mais profundo de seu peito e ele soube da onde viria o perigo, pode ver a sombra do enorme objeto que de alguma maneira estava vindo em direção a eles. A ela! Ele deu passos rápidos, passou a frente dela que também sentia o perigo, esbarrou o braço no ventre dela quanto a protegia, e tomou postura para mais um salto.Saltaria em direção ao enorme objeto que vinha rápido em sua direção, poderia morrer, mas desviaria o objeto da direção dela... Já havia morrido por ela.. Não seria a primeira vez!
O primeiro toque, depois de muito tempo, muitas vidas, não foi nada comparado com o segundo... Paz.. Magia.. Poder... Ela apoiou a Mao esquerda, ornada com um belo bracelete de ouro, em seu ombro. Não usou força, foi somente delicadeza, mas foi o suficiente para segurar o poderoso salto do Tigre...
Um enorme ônibus prata atravessou violentamente a parede de vento areia e pedras, arremessado a uma velocidade alucinante em direção ao olho do furacão. Era uma imensa massa de metal vindo ......... em direção a eles............
Ainda com a mão esquerda pousada no ombro do rapaz, Ela, com a mão direita ornada com outro bracelete de ouro, fez um movimento circular no ar. De suas mãos saíram um pó dourado, um pó que trazia uma luz própria como o mais puro ouro. E então tudo que era caos virou paz, tudo que era violento, ficou terno, tudo mudou. O tempo parou. As paredes internas do imenso furacão pararam, como se esperassem por mais uma lufada de ar para continuar seu movimento, as pedras ficaram suspensas no ar, os destroços de casas e carros que eram arremessados do lado de fora ficaram suspensos, o enorme ônibus que foi arremessado para dentro, parou, e ficou suspenso.
Paz e silencio.
Ele, ainda com os músculos retesados devido a situação moveu somente o pescoço, para olhara para ela. Que retribuiu o olhar e sorriu. Os olhos amarelos e faiscantes dela transmitiam paz que a muito naum sentia, os cabelos encaracolados pela primeira vez estava calmos e não bailavam ao sabor do vento. Sorriram. Ela recolheu a mão direita e a trouxe as lábios, beijou os dedos indicador e médio, então empurrou o beijo com um sopro em direção o ônibus.
E o cenário caótico ganho vida novamente recomeçou! O vento q movia e alimentava o gigante feito de pedras e areia estava novamente soprando, com fúria e devoção.O enorme ônibus prateado foi arremessado para longe dos dois.. . Os cabelos dela balançavam ao sabor do vento, bem mais calmo do que o do lado de fora do furacão. Ele ainda impressionado pelo poder dela, sorria sem graça. Então ela o beijou na testa.. como se beija um gato que se ama. Paz. Sorriu e levitou misteriosa através da parede de detritos e areia. A conversa havia terminando.. tinham resolvido os assuntos desta vida.
Sentindo se um pouco solitário e idiota, o homem de couro com ares felinos agachou e aplicou a tensão nessesaria nos músculos das pernas para mais um salto. Saltou. Atravessou a parede confusa de areia e detritos que formavam o corpo do furacão. Caiu no deserto em volta do gigante e correu.. sobre quatro patas, com velocidade que ser humano algum jamais provou... Seguiu para o Leste. Tinha coisas para conquistar. Bocas para beijar. Amores para amar. Velocidade e agressividade para ele tinham se tornado Vida... não reconhecia mais outra forma de.
O garotinho de moicano sentado na pedra ficou feliz ao ver o homem que corria como um Tigre Selvagem sair vivo de dentro daquele furacão. O garoto ficou em pe na pedra para poder ver o homem se perder no horizonte... A poeira... O sol escaldante... O garoto sorriu.
Enquanto sorria, seus tímpanos perceberam rápido que o som ao seu redor diminuía. Diminuía a medida que o gigante feito de ventos incontroláveis e areia perdia força e se desmantelava aos olhos do garoto. O furacão morria.
O gigante que habitará aquela terra por quarenta anos caiu, os ventos se desfizeram, as areias se acalmaram, o caos se tornou ordeiro.. então a areia voltou para seu lugar. As pedras sustentadas pelas grandes lufadas de ar, encontraram novos lugares.. e o Monstro se desfez.
O Garoto... Não conteve a emoção e correu, correu como uma pessoa normal correria, correu para casa avisar os pais que o Furacão havia se desfeito. Se desfeito sob seu olhos!
Ele tinha o coração na boca.